Deu no Correio Braziliense
Software do Airbus da TAM pode ter induzido erro
O comando de freios do Airbus A-320 da TAM, que se chocou com um prédio da empresa na Avenida Washington Luís na noite do dia 17 de julho, não foi reconhecido pelo computador de bordo do aparelho, segundo um investigador que estuda as causas do maior acidente da aviação civil ocorrido no país. “O manete (alavanca de aceleração) não estava na posição idle (marcha lenta) e o programa não conseguiu perceber que o avião estava pousado. Para o computador, ele ainda estava voando”, afirmou ao Correio.
Segundo outro investigador, o Airbus A-320 sofre algumas restrições operacionais em virtude dos softwares. “Trata-se de um aparelho extremamente sofisticado, que não deve ser operado fora de seus parâmetros específicos em pistas marginais como Congonhas”, comentou. “No caso de um pouso sem reverso, se a alavanca não estiver em idle, o programa transfere força total para o outro motor e o avião ganha aceleração. Isso não seria problema para um aeroporto que possuísse uma área de escape adequada, como Cumbica (Guarulhos), mas é fatal em Congonhas”, sustenta. Sob condição de anonimato, um especialista britânico em A-320 que ocupa atualmente um cargo na diretoria da Associação Internacional de Segurança Aérea afirmou ao Correio que o software Full Authority Digital Engine Control (Fadec - Controle Digital de Autoridade Total do Motor), que avisa o piloto do Airbus A-320 da necessidade de reduzir a posição da manete para idle, numa situação de reversor pinado, pode ter induzido o comandante do vôo 3054 ao erro. Além disso, um projeto mal elaborado da alavanca desse sistema teria contribuído para o acidente ocorrer.
Se o A-320 da TAM tivesse a nova versão do software, o alerta “Retroceda!” prosseguiria até que ambas as alavancas tivessem sido retornadas para idle. Pela transcrição da gravação da cabine, às 18h48min21s6, o Fadec emitiu o som duas vezes, antes de surgir o barulho do movimento do manete. O avião estava a cerca de 6m de altitude, em pouso. Dois segundos depois, a tripulação na cabine escutou mais uma vez a ordem “Retroceda!”. Segundo o especialista, depois que a alavanca direita foi colocada em reverso, o computador interrompeu o alerta e os pilotos teriam posicionado lentamente a alavanca esquerda para climb (aceleração máxima). Após o trem de pouso tocar a pista de Congonhas, o motor esquerdo teria ativado o reverso, desconectando o sistema de aceleração automática (autothrottle) da aeronave. Segundo ele, a máquina reagiu, provocando aumento da velocidade seguido de assimetria de potência, guinando o Airbus A-320 para a esquerda. O perito diz que o erro humano também pode ter sido provocado por falhas no desenho do manete. “A alavanca é facilmente negligenciada num cenário de reverso inoperante e é deixada no padrão de decolagem”, alerta. “Isso ocorre para equacionar o impulso de subida quando o autothrottle é desativado.” O britânico acredita que esse defeito teria sido reforçado pela interrupção do alerta “Retroceda!”, o que supostamente fez com que o piloto se esquecesse de retornar a alavanca para idle. “Além de tudo isso, há o problema de desconexão do freio automático e dos spoilers, quando uma alavanca é deixada acima de idle. Você tem uma bela armadilha no desenho do Airbus, que já levou vários A-320 para fora da pista”, critica. “Em pistas curtas, o piloto é induzido ao erro.”