domingo, 6 de julho de 2008

"Na Antigüidade era comum que alguns textos fossem atribuídos a personagens famosos"

"Bíblia contém antigo poema erótico judaico cuja origem desafia especialistas"
Reinaldo José Lopes
Do G1,São Paulo
Leiam alguns trechos:
"O mundo inteiro só foi criado, por assim dizer, por causa do dia em que o Cântico dos Cânticos seria dado a ele. Pois todas as Escrituras são santas, mas o Cântico dos Cânticos é o Santo dos Santos." A frase teria sido dita pelo sábio judeu Rabi Akivá, por volta do ano 100 d.C., e explicaria porque a Bíblia aceita por cristãos e judeus de hoje abriga esse livrinho misterioso.
Os oito capítulos do Cântico dos Cânticos estão cheios de sensualidade e erotismo, descrições apaixonadas do corpo de dois jovens amantes, insinuações do ato sexual -- e uma única menção, que soa quase como nota de rodapé, ao nome de Deus.
Como explicar, então, seu status nas Sagradas Escrituras judaico-cristãs?
Apesar da inclusão tardia no conjunto das Escrituras, há indícios de que o Cântico tem uma história antiga e complicada. As versões que conhecemos do livro trazem uma espécie de rubrica original, dizendo que o livro é "o Cântico dos Cânticos de Salomão", rei de Israel que viveu por volta do ano 950 a.C., mas a maioria dos estudiosos modernos concorda que essa atribuição é fictícia.
"Na Antigüidade era comum que alguns textos fossem atribuídos a personagens famosos, seja por representar uma continuidade dos seus ensinamentos ou por fazer alusão a momentos marcantes de sua vida ou da lenda gerada por eles", explica Humberto Maiztegui Gonçalves, doutor em teologia bíblica e clérigo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
Outra característica marcante do texto são os chamados "wasfs", longas comparações poéticas em que cada parte do corpo do amado é comparada a um objeto, animal ou lugar.