domingo, 16 de março de 2008

Projetos tentam evitar a cassação de parlamentares

Caros,leiam a matéria do Correio Braziliense:"Projetos tentam evitar a cassação de parlamentares"

Izabelle Torres
Do Correio Braziliense
Pelo menos três projetos em tramitação no Congresso Nacional tentam preservar os mandatos de políticos compradores de votos. Além deles, outros seis chegaram a ser analisados no ano passado, mas foram rejeitados no pacote das proposições inseridas na reforma política. Uma análise do teor das matérias demonstra claramente a intenção dos parlamentares de dificultar o trabalho da Justiça nos processos de cassação de mandatos, criando uma verdadeira barreira entre o crime eleitoral e a punição.
A proposta em fase mais avançada é o projeto de resolução apresentado pelo ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) em 2004, que pretende dar à Câmara a prerrogativa de dar a palavra final sobre a perda de mandato dos congressistas. Na prática, a proposta quer impedir que a decisão de tribunais regionais contra a expedição de diploma de um deputado possa valer antes de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) votar a matéria e a Câmara confirmar a decisão. Com isso, os deputados garantiriam tempo suficiente para concluir seus mandatos e ainda poderiam contar com a conivência dos seus pares para adiar a cassação. Apesar da mobilização de setores da sociedade contrários ao projeto, a proposta de Severino Cavalcanti já recebeu parecer favorável do relator, Colbert Marins (PMDB-BA), e está pronta para ser votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
No Senado também há proposição que pretende dificultar a cassação de mandatos. Apresentado pelo senador César Borges (PR-BA) em 2003, o Projeto de Lei 285 quer tornar mais rigoroso o procedimento para anular a expedição de diploma de um parlamentar acusado de comprar votos. A intenção de Borges é a de evitar que a Justiça de primeira instância possa declarar a perda de mandato de um político, antes de o processo ter sido julgado pelo TSE.
Além disso, a proposta pretende criar critérios mais rigorosos para que as denúncias contra políticos sejam aceitas pelo Judiciário. "Meu objetivo é que as brigas políticas das campanhas não cheguem com tanta freqüência à Justiça. É absurdo que muitas vezes se casse um político que ganhou com uma margem de votos enorme à frente do segundo colocado. Temos de criar regras para preservar a vontade popular manifestada nas urnas", defende o autor do projeto. O relator da matéria, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), ainda não proferiu parecer sobre o assunto.
Essa não foi a primeira tentativa de César Borges de criar regras para proteger políticos. Também em 2003, o senador apresentou um projeto de lei que além de exigir o trânsito em julgado dos processos, reduzia o prazo para apresentação de denúncias contra eleitos. Depois de uma campanha popular comandada pelas instituições que compõem o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, Borges desistiu da proposta.
Enquanto alguns parlamentares tentam abertamente trabalhar pelo aperfeiçoamento da impunidade eleitoral, outros se movem de forma mais discreta em pareceres e emendas a projetos. É o caso do senador José Jorge (DEM-PE), relator do Projeto de Lei 390, de autoria do peemedebista Renan Calheiros (AL). Ao analisar o texto original — que objetivava tornar possível o afastamento da candidatura de um político condenado em primeira ou última instância – o relator modificou diversos dispositivos previstos na proposição. Entre as mudanças está a determinação de que a proibição de candidatura somente pode ser realizada se a decisão tiver sido proferida pelo TSE.
Na avaliação do presidente do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), juiz Marlon Reis, apesar de aparentar uma simples mudança na formatação do texto, a proposição do relator deve possibilitar que os processos contra parlamentares tramitem por anos, sem que haja qualquer decisão. "Da forma como o relator colocou, os candidatos podem contar com diversas instâncias para recorrer e protelar o fim das ações. Não se pode negar que haja projetos bons, que aperfeiçoem de fato a lei. Mas até desses temos receio, pois podem ser emendados a qualquer tempo na Câmara ou no Senado e ganhar um texto completamente diferente", opinou.
Fonte:Correio Braziliense