Por Daniel Pereira,no Correio Braziliense:Antes mesmo de o fundo norte-americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros comprarem a Varig, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já atuava nos bastidores para que a Gol assumisse o controle da companhia aérea. Segundo fontes do governo, no início de 2006 o presidente deflagrou uma campanha para convencer o empresário Nenê Constantino, proprietário da Gol, a arrematar a empresa concorrente. Na ofensiva, contou com o apoio do então ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e do Conselho Nacional do Turismo, do qual fez parte Milton Zuanazzi, primeiro presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
“O fundo era só um intermediário. Desde o início, o governo via a Gol na ponta final da operação”, diz um parlamentar afinado com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
O Matlin Patterson já era conhecido no mercado por adquirir empresas com dificuldades financeiras, saneá-las e depois revendê-las. A Varig não passaria de mais um caso no currículo do fundo, e o palácio sabia disso. “Eles enxergaram uma oportunidade de negócio e ganharam muito dinheiro com isso”, acrescenta outro parlamentar. Em junho de 2006, o Matlin Patterson e seus três sócios brasileiros pagaram US$ 24 milhões pela Varig. Em março de 2007, revenderam a empresa para a Gol por US$ 350 milhões.
No dia em que foi comunicar ao presidente que adquirira a Varig, o próprio Nenê Constantino admitiu o lobby de Lula. “Há seis meses, o presidente me pediu para eu entrar nas negociações para salvar a Varig”, declarou o empresário, ainda no saguão do Palácio do Planalto. Na ocasião, estava acompanhado do filho Constantino Júnior. Lá, os dois encontraram o advogado Roberto Teixeira, amigo e compadre de Lula.
Teixeira terminou contratado pela Gol para tentar organizar a incorporação da Varig ao grupo Gol. Foi formada, então, a holding Gol Linhas Aéreas Inteligentes, que passou a administrar duas companhias: a Varig Linhas Aéreas S/A e a Gol Transportes Aéreos S/A. Fontes do mercado garantem que, pelo trabalho, Teixeira teria recebido R$ 35 milhões de honorários. Uma segunda parcela de mesmo valor ficou de ser paga depois, o que ainda não ocorreu. Até hoje, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não aprovou a compra da Varig pela Gol.
Ontem, em depoimento na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, a ex-diretora da Anac Denise Abreu levantou suspeitas sobre o negócio entre Gol e Varig. Disse que o processo foi “orquestrado” desde a transação capitaneada pelo Matlin Patterson. Ressaltou ainda a diferença entre o preço pago pela Varig em junho de 2006 e o valor desembolsado em março de 2007 pela Gol. “Fui perguntada sobre por que foi comprada por US$ 24 milhões e depois revendida por US$ 350 milhões, sendo que você tinha 15 aeronaves e as mesmas rotas. Não dá para saber por que uma empresa quer gastar mais numa operação”, declarou Denise. Oposicionistas fizeram a mesma pergunta, que permanece sem resposta.
Fusão
Desde o primeiro mandato, o presidente prometeu ajudar a Varig a superar a crise financeira.
De início, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e Denise Abreu, uma de suas auxiliares na época, defenderam uma fusão com a TAM. A empresa chegou a assinar um acordo de compartilhamento de vôos com a Varig, como primeiro passo da união entre elas. A parceria ruiu em 2005 depois de ser bombardeada por órgãos de defesa da concorrência e políticos petistas. Os primeiros temiam a formação de um monopólio no setor. Os segundos não aceitavam a possibilidade de fim da bandeira Varig. Sobretudo os gaúchos.
“A questão regional teve influência decisiva”, afirma o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). Fracassada a alternativa TAM, o governo passou a apostar na solução de mercado, defendida pelo vice-presidente e então ministro da Defesa, José Alencar. Como o tempo passou e a Varig perdeu as condições financeiras para voar, Lula cobrou uma solução urgente para o caso. A meta era preservar os empregos e a operação da empresa, a fim de evitar mais transtornos aos passageiros. Ato contínuo, surgiu o nome da Gol.
Fonte:Correio Braziliense
Fonte:Correio Braziliense
