Difícil a situação do chanceler brasileiro Celso Amorim, que teve de explicar nesta segunda feira (3/3), ao vivo, o que o Brasil pensa do conflito (e merece ser chamado assim) envolvendo Colômbia, Equador, Venezuela e a narcoguerrilha das Farc. Antes de saber que o Equador rompera relações com a Colômbia, sugeriu que o presidente Alvaro Uribe pedisse desculpas ao colega Rafael Correa.
A chave para se entender o conflito é definir como cada um enxerga as Farc.
Hugo Chávez já pediu que esse grupo armado recebesse o status de beligerante, por ser, na definição do presidente venezuelano, um Exército que ocupa território e tem objetivo político definido (derrubar o atual governo e instaurar uma república socialista). Chávez não vê as Farc apenas como simpatia; ele apóia esse grupo. Seu colega Rafael Correa parece ir na mesma direção – estranho é seu silêncio sobre o que as Farc faziam e como operavam a partir do território de seu país.
Grande parte da comunidade internacional enxerga as Farc como elas são: um grupo armado que se assenhorou do cultivo, refino e venda de cocaína, que pratica atos de terrorismo e sabotagem contra sucessivos governos democraticamente eleitos, e que ajuda ainda o caixa de campanha com seqüestros e extorsões. Nenhum país com apego ao estado de direito e regimes democráticos (e várias importantes potências mais, digamos, autoritárias, como China e Rússia) trata as Farc de outra maneira.
E onde está o Brasil? Não é nem em cima de um muro. É pior. É ATRÁS de um muro de mal disfarçadas simpatias ideológicas pelo grupo que comprovadamente tem com o Brasil .
É claro que o Equador tem o direito de reagir como reagiu à invasão de seu território, e que a Colômbia tem o direito do “hot pursuit” (o mesmo que permitiu a ação no Afeganistão contra Osama bin Laden) se está comprovado que é atacada a partir de território vizinho (e ninguém contesta esse fato).
O ministro das Relações Exteriores brasileiro recusou-se a responder diretamente à boa pergunta colocada pelo repórter Carlos de Lannoy, da TV Globo de Brasília, que pediu que Celso Amorim dissesse, afinal, se o governo brasileiro achava positiva ou negativa a morte do segundo principal dirigente das Farc, Raul Reyes.
Enquanto os interesses maiores do Brasil estiverem subordinados à visão ideologizada de alguns formuladores de sua atual política externa, vamos ter, de fato, um chanceler que não é capaz de responder a perguntas. Especialmente as mais simples.