À Folha, o padre disse ter pago cerca de R$ 50 mil para o grupo "por constrangimento". O total pago inclui R$ 20 mil em prestações de um carro comprado em 2004. "No fundo, existia uma esperança de que ele mudasse", afirmou.
Leia a entrevista concedida pelo padre Júlio à Folha:
FOLHA - Como o sr. conheceu o Anderson Batista [acusado de liderar a extorsão]?
PADRE JÚLIO LANCELOTTI - Ele estava trancafiado em uma cela.
FOLHA - Quanto tempo faz isso?
FOLHA - Quanto tempo faz isso?
PADRE JÚLIO - Faz muito tempo. Eu acho que já faz uns sete anos isso. Quando saiu, ele me procurou. Disse que estava sem onde morar, sem trabalho.
FOLHA - Que tipo de ajuda ele pediu na época?
FOLHA - Que tipo de ajuda ele pediu na época?
PADRE JÚLIO - Nós conseguimos que ele arranjasse um lugar para morar. Nós ajudamos no aluguel. Depois, ele foi incluído em uma frente de trabalho da prefeitura.
FOLHA - Em que momento a extorsão começou?
FOLHA - Em que momento a extorsão começou?
PADRE JÚLIO - Ele queria ter uma bicicleta. Da bicicleta foi para a moto, da moto foi para o carro. Alguma coisa que vai ficando incontrolável. Sempre dizia a ele: você não tem limite.
FOLHA - Em que momento surgiram as ameaças?
FOLHA - Em que momento surgiram as ameaças?
PADRE JÚLIO - Nos últimos três anos. Aí as coisas começaram a ficar mais tensas, mais difíceis. Mesmo a relação dele com a companheira.
FOLHA - Como eram as ameaças?
FOLHA - Como eram as ameaças?
PADRE JÚLIO - Ele dizia: "Eu vou resolver do meu jeito". Nesse caminho ele teve um homicídio, ele matou uma pessoa. Esse inquérito foi arquivado porque ele alegou legítima defesa. FOLHA - Mas ele usava isso para amedrontar o sr.?
PADRE JÚLIO - E dizia: "Eu sou capaz". Algumas vezes, ele me procurou embriagado. Um dia ele veio aqui e tentou entrar com o carro na porta. Eu dizia que não tinha aquele valor, que tinha de esperar. Às vezes, eu conseguia só uma parte.
FOLHA - Começou com quanto?
FOLHA - Começou com quanto?
PADRE JÚLIO - Com R$ 300, R$ 500. E acabou com R$ 10 mil, R$ 20 mil, R$ 40 mil.
FOLHA - De onde o sr. tirava o dinheiro?
FOLHA - De onde o sr. tirava o dinheiro?
PADRE JÚLIO - De economias. De empréstimos com amigos. Mas não era de uma vez só. Eu esgotei tudo que eu tinha.
FOLHA - O sr. chegou a fazer empréstimos?
FOLHA - O sr. chegou a fazer empréstimos?
PADRE JÚLIO - Eu não gostaria de dizer de quem. Com amigos. Consegui com duas pessoas amigas R$ 5.000.
FOLHA - E a Pajero?
FOLHA - E a Pajero?
PADRE JÚLIO - Ele comprou e eu fiquei como fiador. E fui ajudando ele a pagar.
FOLHA - O sr. pagava a prestação?
FOLHA - O sr. pagava a prestação?
PADRE JÚLIO - Sim. Pessoalmente. Ainda falta um tanto.
FOLHA - O sr. pagou por medo?
FOLHA - O sr. pagou por medo?
PADRE JÚLIO - Acho que sim. Por constrangimento. No fundo, existia uma esperança de que ele mudasse.
FOLHA - Mas, mesmo assim padre, não era para comprar uma Pajero, um carro de luxo?PADRE JÚLIO - Mas não era só isso. Dizia de outras coisas. Que iria comprar um terreno, uma máquina de fazer fraldas.
FOLHA - Mas o sr. não pensou que um carro desse, de luxo, não era um pouco demais?
FOLHA - Mas, mesmo assim padre, não era para comprar uma Pajero, um carro de luxo?PADRE JÚLIO - Mas não era só isso. Dizia de outras coisas. Que iria comprar um terreno, uma máquina de fazer fraldas.
FOLHA - Mas o sr. não pensou que um carro desse, de luxo, não era um pouco demais?
PADRE JÚLIO - Sim, claro, achei que era um pouco demais. Eu fiz argumentos nesse sentido. Foi depois que ele perdeu um filho. Disse que estava sofrendo muito e, se tivesse isso [o carro], iria acertar a vida dele.
FOLHA - Em uma das conversas gravadas, a Conceição diz que o denunciaria por causa do filho dela.
FOLHA - Em uma das conversas gravadas, a Conceição diz que o denunciaria por causa do filho dela.
PADRE JÚLIO - Do filho dela de oito anos. Ela tem uma vasta folha de passagem na polícia. Na gravação, eu digo: que coisa horrível, vocês vão usar o próprio filho. Vão ensinar a criança a mentir. Essa questão do filho era pontual. Eles não usaram isso sempre. A questão principal era o constrangimento.
FOLHA - O sr. se dedicou a outras pessoas como ao Anderson?
FOLHA - O sr. se dedicou a outras pessoas como ao Anderson?
PADRE JÚLIO - A gente tem uma ajuda estabelecida. Ele fugiu disso.
FOLHA - O que seria uma ajuda normal?
FOLHA - O que seria uma ajuda normal?
PADRE JÚLIO - Uma ajuda para moradia, dois ou três meses. Conseguir auxílio para conseguir um vestuário, um sapato, para completar um aluguel.
FOLHA - Mas o sr. se perdeu um pouco nessa ajuda excessiva?
FOLHA - Mas o sr. se perdeu um pouco nessa ajuda excessiva?
PADRE JÚLIO - Eu confiei muito que eles tivessem uma mudança. Que eu fosse capaz de atingir o coração deles, que eu fosse capaz de fazê-los entender.
Espanta Fantasma Comenta:
Não acredito em nada do que esse padre diz, li todas as reportagens sobre o caso . Somos informados de que Lancelotti estava sendo vítima de extorsão .
Aí se lê: “Lancelotti chegou a ser fiador e pagou oito prestações de uma Pajero comprada pelo marginal", como é que um padre se deixa extorquir ao longo de três anos?Na reportagem da Folha de hoje, ele diz que teria denunciado a extorsão — extorquido por quê? E, se foi extorsão, qual era o trunfo de quem a praticava? Afinal, quem é o marginal nesta história???