quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Correio Braziliense:STF tenta se proteger da ação de arapongas com equipamentos antigrampos

O Supremo Tribunal Federal (STF) quer se proteger dos espiões. A Corte busca no mercado uma empresa que lhe forneça aparelhos capazes de codificar as ligações telefônicas de ministros e servidores — sejam elas por celular ou aparelho fixo. Tecnicamente, a parafernália se chama sistema de criptografia. A compra, cujo valor ainda é segredo, ocorre após o escândalo do grampo do qual teria sido vítima o presidente do Tribunal, ministro Gilmar Mendes.
A suspeita é a de que agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tenham sido os autores. Há um inquérito na Polícia Federal para investigar o caso.
A própria Abin desenvolve esse tipo de tecnologia de defesa para órgãos do governo federal.
O presidente da República, ministros e vários dirigentes de estatais conversam por meio de telefones antigrampos entregues pela agência — mais de 1,2 mil já foram distribuídos.
O Supremo, no entanto, busca na iniciativa privada um fornecedor. O equipamento que o Supremo pretende adquirir transforma o que foi dito ao telefone em códigos, que voltam a ser palavras quando passam pelo aparelho de quem está do outro lado da linha. Na hipótese de um grampo, seja ele legal ou clandestino, o autor só ouvirá um chiado. Ele pode até tentar “quebrar” o código, mas, segundo especialistas, não viveria o suficiente para concluir a tarefa.
A vulnerabilidade das conversas de ministros e funcionários da alta Corte passou a ser uma preocupação da direção do Supremo depois da denúncia de que uma conversa entre Gilmar Mendes e o senador Demostenes Torres (DEM-GO) foi alvo de grampo clandestino.
O crime teria ocorrido dias depois de o STF conceder, por duas vezes, habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, alvo da Operação Satiagraha, realizada pela Polícia Federal em 8 de julho.Uma das linhas de investigação dos delegados encarregados de desvendar a autoria da tal escuta clandestina mira em agentes da Abin que colaboravam com o delegado Protógenes Queiroz, responsável pelo inquérito da Satiagraha.
Até agora, passados quatro meses de aberta a investigação, não se tem um desfecho do caso. Mas ele deixou a Corte alarmada e preocupada com a segurança.
Segurança
Procurada ontem pelo Correio, a assessoria de Gilmar Mendes informou que a licitação do sistema de criptografia “foi uma decisão da administração para melhorar a segurança interna e institucional” do Supremo. Alegando razões estratégicas, o STF não repassou mais detalhes.Desenvolvidos principalmente em Israel, os sistemas de criptografia são encontrados no mercado por preços que variam de R$ 1,2 mil a R$ 8 mil, segundo um revendedor de Brasília consultado pela reportagem. “As conversas estarão blindadas”, afirmou o especialista.
Mas nem tudo está seguro. De acordo com ele, há outras ferramentas disponíveis no mundo da espionagem que permitiriam o acesso a conversas reservadas. É o caso, por exemplo, dos aparelhos de escuta ambiental, espécie de supermicrofones que, adquiridos via internet por apenas R$ 500, conseguem captar diálogos a metros de distância, mesmo que a conversa se passe entre quatro paredes.
Fonte:Correio Braziliense