terça-feira, 22 de abril de 2008

Ali Kamel esculacha livro de ex-presidente da radiobras

Seguem trechos da crítica que Ali Kamel(o testador de hipóteses) faz ao livro "Em Brasília, 19 horas, de Eugênio Bucci", ex-presidente da Radiobras, publicado pela Editora Record.
Leiam:

Eugênio Bucci presidiu a Radiobrás do início do governo Lula até abril do ano passado, um período longo. Para fazer o balanço de seus anos à frente da estatal, acaba de lançar um livro, "Em Brasília, 19 horas, a guerra entre a chapa-branca e o direito à informação no primeiro governo Lula". Em 292 páginas, Bucci tenta demonstrar que, em sua gestão, a Radiobrás procurou imprimir "uma direção apartidária, impessoal, para servir à sociedade, atendendo o direito à informação". Em uma das muitas avaliações que faz de seu trabalho, ele declara: "Alinhada com essa tendência, a gestão da Radiobrás entre 2003 e 2007 procurou exercer até o limite as suas atribuições, mantendo a devida distância entre os interesses de governo e os critérios jornalísticos que pautavam a edição das notícias".
Não posso concordar. A Radiobrás não foi diferente do que era nas gestões passadas. Ela cumpriu fielmente o decreto que define a sua missão: "Divulgar as realizações do governo federal nas áreas econômica, política e social e difundir para o exterior conhecimento adequado da realidade brasileira."
(...)
Comecemos pelo fim. Como todos nós, jornalistas, estamos acostumados ao padrão chapa-branca da Radiobrás, não chega a surpreender que não tenha havido uma só acusação de sonegação de dados. Aceite Bucci ou não, jornalistas não julgam o trabalho da Radiobrás por este prisma, simplesmente porque ela não tem importância. Ninguém segue o noticiário da Radiobrás à cata de furos nem cobra dela que vigie o poder, ela que é subordinada ao poder. É preciso ressaltar também outro aspecto da questão. Se a intenção de Bucci era dar autonomia jornalística à Radiobrás, por que motivo não atuou no sentido de mudar o decreto que, ainda hoje, faz a empresa ser legalmente chapa-branca? Se o seu projeto era sincero, por que não propor mudanças legais que livrassem a estatal da influência de governos?
Dizer que o decreto que rege as atividades da empresa "não é maravilhoso, mas melhorou" é expressar conformismo com o status quo. É falar de mudanças, mas sem o desejo real de implementá-las.
(...)
Aos olhos dos que acreditam num jornalismo livre, a Radiobrás continuou subserviente ao poder como sempre; aos olhos dos que têm alergia a jornalismo e sonham com medidas extremas (como censura prévia), o jornalismo dela, mesmo objetivamente subserviente, pode ter parecido "objetivo" ou "de oposição". Isso não quer dizer que tenha sido uma coisa ou outra.
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É chocante o relato que ele faz de 2006. Ele diz com todas as letras: "Nos cinco primeiros meses do ano eleitoral de 2006, o presidente Lula pôs o pé no avião e girou o país de um lado para o outro, dobrando o número de viagens em relação ao mesmo período do ano anterior: viajou 65 vezes, para 53 destinos diferentes, contra 32 vezes e 27 destinos nos cinco primeiros meses de 2005." Com atividade eleitoral tão frenética, Bucci conta que o dinheiro acabou, ficaram "lisos, sem um tostão". O que fez Bucci? Esforçou-se pessoalmente, de maneira intensa, para liberação de mais recursos. No fim, conseguiu mais R$ 200 mil, dinheiro que "daria para mais um mês, se tanto." No livro, ele conta: "Assim foi: de gota em gota, de mês em mês, um sufoco em prestações." Novamente pergunto: é assim que deve agir alguém preocupado com uma gestão "apartidária e impessoal"?Jamais. O certo era esclarecer a quem de direito que atividades de presidente são atividades de presidente e que campanha eleitoral é campanha eleitoral. Uma coisa deve ser coberta pela Radiobrás, a outra, não.
Para ler a íntegra no Globo On Line, clique aqui