Por Jamil Chade, no Estadão:
A França radicaliza e usa a alta dos preços dos alimentos para defender medidas protecionistas na agricultura, uma alta nos subsídios e até o fim da expansão do etanol. Ontem, o governo francês propôs uma ampla ação para combater o aumento nos preços dos alimentos.
Paris quer um novo critério para importar o etanol, acusado como um dos culpados pela alta das commodities, e ainda propõe a manutenção das barreiras comerciais contra as importações dos países emergentes.
A proposta foi feita no Conselho de Ministros da Agricultura da União Européia, praticamente ao mesmo tempo em que o relator da Organização das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, afirmava que o etanol seria uma “crime contra humanidade”.
O relator pediu que a UE abandonasse sua meta de ter 10% dos carros movidos a etanol até 2020. Em Bruxelas, a UE rejeitou a tese de Ziegler e disse que a meta vai seguir.Mas a pressão cresce. O governo francês sugeriu ontem que a produção de alimentos da Europa fosse incentivada e protegida para lidar com a inflação no setor.
Segundo Paris, a crise poderia colocar 100 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento em situação de pobreza extrema. A União Européia, segundo a França, não poderia ficar passiva em relação a isso.Para lidar com a crise, os franceses sugerem que a UE não aceite a liberalização do setor agrícola e continue a ser uma produtora de peso.
Michel Barnier, ministro da Agricultura da França, deixou claro que isso significa não ceder em nada nas negociações da Organização Muncial do Comércio (OMC) e não aceitar a queda de tarifas e subsídios defendida pelo Brasil.Para diplomatas brasileiros, a França está se utilizando da crise mundial para legitimar uma posição protecionista que já vinha defendendo. “A UE tem de ser manter como uma potência agrícola”, afirmou Barnier, que rejeitou a idéia de países como o Reino Unido de reduzir os bilionários subsídios.
Hoje, 45% do orçamento da UE vai para a agricultura e Barnier está convencido de que o volume de subsídios não pode cair. Para a França, na realidade, esses valores devem aumentar e recursos para o desenvolvimento público no bloco europeu deveriam ser redirecionados à agricultura.
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