Superior hierárquico da Polícia Federal, o ministro Tarso Genro (Justiça) desdobra-se, desde o início da semana, para defender uma tese: a confecção de dossiês não constitui crime. O delito, diz ele, se restringe ao vazamento de dados sigilosos.
Já na terça-feira (8), em entrevista à Rádio Gaúcha (ouça), o ministro dizia que dossiê é algo que “um administrador pode ou não fazer, deve ou não fazer, dependendo das circunstancias, por decisão política (...)”.
Nesta sexta-feira (11), o Correio Braziliense traz declarações de um Tarso Genro mais enfático: "Fazer um dossiê não é um ato criminalizável". O crime, ele repisa, está em "vazar documentos e não fazer o dossiê".
Faça-se, por oportuno, um resumo da encrenca do dossiê. A coisa veio à tona nas páginas de Veja, que revelou a existência de levantamento de 13 páginas com gastos exóticos de FHC e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Descobriu-se que informações contidas no dossiê já haviam vazado, de forma esparsa, para colunistas e repórteres. A Folha descobriria em seguida que partira de Erenice Guerra, número dois de Dilma, a ordem para que os dados da gestão tucana fossem colecionados.
Sobreveio a informação, veiculada também na Folha, de que o dossiê era maior. Em vez das 13 folhas iniciais, tinha 27 páginas. Constam de planilhas eletrônicas. O jornal reproduziu algumas dessas planilhas, extraídas dos computadores da Casa Civil. Foi esse desdobramento que forçou a entrada da Polícia Federal no caso. Providência que Tarso vinha se recusando a adotar.
De concreto, tem-se, por ora, a constatação de que Dilma tornou-se uma espécie de sub-Dilma. A depender do que venha a concluir a PF, a Toda Poderosa da Casa Civil talvez tenha de recorrer ao bordão predileto de Lula: "Eu não sabia." O prestígio de um gestor público, de resto, não se mede apenas pelos delitos que comete. Pesa também a análise de suas decisões e o contorno ético e moral de que são revestidas.